Para comemorar seu aniversário, ele resolveu fazer um projeto para o ano inteiro. E foi assim que surgiu a ideia dos 365 Nus do Fernando Schlaepfer e é sobre isso que conversamos com o Fernando numa breve entrevista via facebook messenger.
Resolvi entrevistar o Fernando por que o artigo que publiquei aqui com suas fotos tem atraído um número de visitantes grande, ficando sempre entre os artigos mais populares nas últimas semanas. Se o mundo está tão interessado nessas fotos quanto eu estou, já era hora de conversar sobre os 365 nus do Fernando Schlaepfer.
Como surgiu a ideia dos 365 Nus do Fernando Schlaepfer?
Primeiro veio a ideia de fazer um projeto 365, a partir de um conselho que eu mesmo dei pra um amigo / assistente / irmão quando queria se dedicar a fundo em um projeto pessoal. Sentia falta de poder criar com menos amarras, falar sobre um assunto que eu me interessasse e pudesse me preocupar menos com detalhes e padrões que eu preciso seguir em trabalhos – coisas como posicionamento da marca, briefings externos, atenção com caimento de roupas, representação do produto e detalhes do tipo que permeiam os universos da moda e publicidade.
Então eu cheguei a resposta que já estava na minha cara para criar imagens onde roupas, produtos, mercados ou consumidores não interferissem no processo: fotografar apenas pessoas nuas, onde a foto seria somente o resultado de uma ideia trocada com ela e somente ela.
Num segundo momento entendi que essa escolha tinha camadas além das que eu havia chegado conscientemente, por lidar com fatores sociais e pessoais que me interessam diretamente.
Você acha que vai dar para publicar um nu por dia durante o ano inteiro?
Sim! É um compromisso pessoal, e estou me fodendo (muito) para isso, mas continuarei conseguindo (e me fodendo).
Como você encontra tantos modelos e cenários diferentes para tantas fotos?
Quando parei pra conversar mais sobre, cheguei a uma conclusão quase óbvia de que todas as pessoas têm uma relação com o nu. Que todas ficam nuas é um fato (espero que seja!), mas praticamente todas têm o que falar / trocar sobre isso. Os assuntos e motivos são infinitamente variados de pessoa para pessoa, indo de auto-aceitação e superação de traumas a liberdade e naturismo.
Os cenários variam tanto quanto as pessoas porque elas têm uma influência direta na escolha deles: procuro sempre chegar numa locação que a pessoa fique a vontade, de preferência que tenha alguma relação pessoal com o lugar, e quando possível, que infrinja o mínimo possível de leis haha.
Uma das primeiras fotos que vi para esse projeto foi do seu avô. Como foi fotografá-lo?
Foi natural, fácil e elucidativo. A partir dessas fotos que outras questões e motivos vieram a tona pra mim.
Meu avô é “naturista aposentado” – digo, é naturista e sempre será, mas não pratica o nudismo há anos porque os lugares que ele costumava frequentar ou não existem mais ou são longe pra caralho. Ele foi o vice-presidente da ACN (Associação Carioca de Naturismo) e durante muitos anos da minha infância e adolescência eu frequentei alguns clubes com ele, o que definitivamente é uma parte importante da minha relação com o nu.
Mas enfim, mesmo eu só frequentando ocasionalmente por pura falta de tempo e ele não tendo mais a disposição de outrora pra se mandar pra clubes / sítios / praias que ele tanto ia, obviamente toda a relação de liberdade, desprendimento e aceitação que o naturismo cativou continuam totalmente presentes nele, que topou fazer essas fotos com um sorrisão no rosto, antes mesmo de eu terminar o convite.
Você vê alguma diferença entre fotografar um nu feminino e um masculino? Qual é mais fácil de trabalhar?
Sem dúvidas existem diferenças, afinal, vivemos em uma sociedade extremamente machista. O nu feminino é esquizofrenicamente ovacionado e ojerizado – acho que nem preciso citar em quais situações cada momento se aplica, né? –, mas muito mais comum que o masculino. Então acredito que é mais provável a mulher já ter se colocado nesse lugar, pensado de que forma se mostraria nua, ter questionado ou confrontado o preconceito e os padrões acerca, e já chegue nas fotos com um objetivo mais claro do que quer passar nas imagens.
Os homens, por mais que num primeiro momento possa se pensar o contrário, se mostraram mais tímidos e inseguros na maioria. Não sei se pela falta de referência que alguns possam ter sobre nus masculinos, ou porque até então não tiveram motivo pra se questionar sobre uma exposição dessa forma, ou o motivo que for, mas pelo menos nas experiências que eu tive, foi sempre mais difícil convencer um amigo homem – hetero, principalmente – do que uma amiga mulher – independente da orientação sexual.
Já percebi que muitas das fotos que você publica são feitas em locais públicos, já aconteceu alguma coisa estranha durante essas fotos?
Algumas. Na mais recente, quase fomos presos por atentado ao pudor – mesmo tendo conversado com as 3 pessoas que estavam no local que fotografamos e todos terem falado super de boa que não se ofenderiam com aquilo, mas um policial surgiu e falou que uma outra pessoa que não estava ali (?) havia denunciado. Enfim, não deu em nada mais sério, mas foi a única experiência negativa no que diz respeito a imprevistos do tipo.
Algumas outras experiências / imprevistos terminaram completamente positivas, como funcionários de uma obra respeitando uma mulher nua (eu e meu preconceito aprendemos com essa), chuva e baixa visibilidade que quase fizeram cancelar uma foto que se tornou uma das favoritas do projeto, maré enchendo e obrigando a gente a mudar a locação inicial para uma que curtimos muito mais e algumas dezenas de outras que acontecem sempre que as fotos são externas – ou seja, na enorme maioria das fotos do projeto haha. Mas vale a pena.
Fica aqui o muito obrigado ao Fernando Schlaepfer pela disponibilidade para essa entrevista e pelo belíssimo projeto.
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